Autora mineira reflete sobre luta contra a depressão em livro

A obra separa as 56 páginas em dois segmentos narrativos: queda e voo. “Essa partilha representa precisamente os momentos mais difíceis da minha depressão, na queda, quando eu realmente me vi em queda-livre, e o momento em que eu comecei a melhorar e me reerguer novamente, no voo”, explica a autora.

A arte foi um porto seguro para cuidar da saúde mental. Escritora desde a puerícia, Júlia começou a desafogar em blocos de notas e desenhos, fazendo da escrita um processo “muito orgânico”.

Seguida pelo libido de se libertar, quando estava em um momento “sombrio”, o concepção para o livro voou em sua mente. “Eu recorria a ela [escrita] em todo momento no qual eu não sabia para onde decorrer”, conta Julia.

“Eu acredito que a arte, no universal, tem esse poder de transformar seus sentimentos mais angustiantes em obras primas. Toda vez que eu desabafava no papel, era um consolação”

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Julia desenhou a toga do livro

Reprodução

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Julia Inauguração escreve desde a puerícia

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Julia Inauguração é uma escritora de 23 anos

Registro Pessoal

Assim, toda a narrativa do projeto vem de uma procura por autoconhecimento. “Minhas confusões emocionais e psicológicas que sempre me intrigaram. Meus sentimentos eram fascinantes para mim mesma, e eu sempre me pus a grafar para buscar entendê-los”.

“Era, e ainda é, um eterno solilóquio escapista. Eu escrevo toda vez que meus sentimentos borbulham até o topo, e isso me ajuda a acalmá-los. Acredito que sempre podemos relatar com a arte para nos ajudar”.

Os poemas de voo nasceram “quase que juntamente ao livro”, quando Julia começou o tratamento. “Hoje, ao lê-los, sinto-me extremamente triste por reviver sentimentos tão pesados, tristes e, ainda assim, tão familiares a mim”, afirma a autora.

“Agora também posso me sentir feliz e orgulhosa por pensar que eu fui potente o bastante para enfrentar tudo que enfrentei e estar, hoje, com asas abertas para voo”.

Além de escritora, Julia também é cineasta, e sempre procura se individuar cada vez mais na arte de relatar histórias.

Vulnerabilidade

Por ser um projeto muito íntimo, Julia conta que hesitou em me abordar alguns temas nas poesisas. “Pensei em retirar alguns [poemas] da publicação final, mas eu decidi abraçar essa vulnerabilidade. Eu expus meus sentimentos, minhas patologias, meus relacionamentos, minha sexualidade”.

“Eu pensava principalmente na minha família, que com certeza leria aquilo e enxergaria uma visão de mim não conhecida anteriormente. Mas, se eu não fosse completamente sincera com esse livro, eu não seria honesta comigo. Não estaria satisfeita”.

Ela comenta que, sem a exposição, o livro não seria o “Observador de Pássaros”. “Seria outro livro, talvez, mais podado. Mas para transmitir tudo o que eu queria que fosse transmitido, eu decidi me entregar à vulnerabilidade e deixar que mais pedaços de mim fossem conhecidos”.

“Eu espero que esse livro deixe um rastro de esperança em todos que o lerem. Muitas vezes, viver se torna uma guerra complicada — pelo menos foi, para mim, durante muitos anos. E eu ainda sou jovem, portanto sei que enfrentarei momentos ruins novamente. Sempre teremos a queda. Mas eu quero que fique o recado de que, da mesma forma, também sempre teremos o voo.”

Leia o prefácio de Observador de pássaros:

“O pavor de voar está quase atrelado ao pavor de desabar. O pavor esvai quando o lápis toca a folha de papel pela primeira vez e cria um mundo imaginário inundado por verso, prosa e magia. “Observador de pássaros” é um livro de poemas dividido entre as fases de ‘queda’ e de ‘voo’. Textos mais tristes são encontrados na primeira período, e mais esperançosos na segunda…Neste meio tempo, as dificuldades em viver com a depressão, a impaciência e autismo. Apesar dos desafios, a verso não teme. Ela alça voo; ela cai. Ela explica o inexplicável, e recolhe-se na sua incompreensão… Ela baila continuamente porquê um pássaro que desbrava os céus, destemida”.