A mulher enterrada na rua Padre Teixeira em frente ao Campus da FESC

Morar na rua Padre Teixeira pode ser sorte, pode ser benção ou pode ser maldição. Será? Enfim, a rua que homenageia o religioso paranaense a quem são atribuídos milagres e que morreu por essas terras devido à epidemia Gripe Espanhola em 1919 tem algumas curiosidades. Entre 1882 e 1890, o Campus I da Fesc, era um cemitério.
Em 1932 aquela espaço deu lugar ao Estádio Ruy Barbosa, cuja construção foi envolta em histórias que se espalhavam pela cidade.
Conta-se que no início da construção do estádio, foram descobertas ossadas que haviam sido esquecidas no sítio quando foram incinerados os ossos dos que ali estavam sepultados. Diz a mito que nas noites de sextas-feiras havia uma procissão de pessoas encapuzadas que saíam exatamente à meia-noite, davam a volta no campo e desapareciam sem deixar vestígios. Dizia-se que eram pessoas que haviam sido enterradas no velho cemitério e cujos ossos não foram incinerados. O relato consta no livro “Aspectos do Folclore São Carlense”, de Lígia Temple Garcia Gatti.
Marcelo sempre foi encanado com a mito do Ruy. Sua vivenda fica muito em frente ao campus da Fesc na Padre Teixeira. Ele tinha rotina observar TV até tarde da noite, pois chegava da faculdade e não tinha zero para fazer. Mas toda a noite, por volta 1h30 ou 2h quando estava indo dormir sempre abria janela da sala e olhava para o gradil da FESC. “Nunca vi zero e ainda muito, e espero não ver!”
Barulhos? Marcelo escutava sempre, mas a rua era movimentada, normalmente tinha alguém passando, sege, buzina. Mas ele ouvia coisas estranhas e jurava que escutava gente batendo ferramentas dentro do Ruy. Sua mãe, seu pai e seus dois irmãos achavam engraçado vê-lo relatar suas histórias de pavor do Campo do Ruy e não levavam zero a sério.
Marcelo era organizado. Antes de dormir passava no altar de sua mãe, fazia o sinal da cruz no galeria, e depois ia deitar. O quarto estava sempre danificado. Naquela noite fria de outono, uma sexta-feira, Marcelo entrou no quarto e viu livros caídos no soalho, papeis jogados e balas que ele deixava em um pote na mesa do computador viradas em cima de uma cadeira. Pensou que tinha sido obra do gato Oswaldo, porém foi verificar e o bichano dormia calmamente junto com o cachorro Aderbal. “Vai ver que ele veio cá antes”, pensou.
Perdeu uns 20 minutos para arrumar a bagunça, porém era preciso. Não conseguia deitar com o quarto todo revirado. Enfim, na leito, mais uma vez observou a tela do celular, 2h20. Sabia que precisava despertar cedo para estudar, todavia já tinha perdido secção da noite.
Dormiu um sono, talvez umas horas, mas novamente acordou com sede, o quarto estava gelado. Não conseguiu encontrar o óculos de supetão, fixou a vista, assonado, sentou na leito, pegou a garrafinha de chuva, deu uma trago e falou: “Mas que diabos está acontecendo cá?”
Ele olhou e suas roupas estava todas no soalho, papeis jogados, tudo revirado, de novo. A porta do seu armário estava batendo e dentro uma luz potente. Marcelo se encostou na parede, quase fazia xixi nas calças e dizia consigo mesmo: “Eu sabia, eu sabia!”
De trajo, Marcelo sabia. Era um contato do outro mundo, do além mesmo. Do zero, veio uma voz de mulher. “Abra a porta do armário, não tenha pavor rapaz!”
Já com os óculos, completamente embaçados, Marcelo correu e abriu a porta. Ali, viu uma luz muito potente uma vez que se o lugar fosse um túnel. Ficou esperando e nele veio uma mulher. Mas não era uma mulher geral, era uma vez que se fosse um espírito de luz. Roupa branca, cabelos uma vez que se pegassem queima. “Moro cá antes de você, sabia?”
Marcelo ficou espantado, tremia, engolia a sedento, não sabia o que falar. Lutou para não mijar nas calças, por pouco não aguentou. “Rapaz, essa vivenda foi construída em que ano?” Ele resolveu responder: “Nos anos 70, havia uma antiga, foi derrubada pela família!”
A mulher-fantasma contou um pouco para Marcelo: “Eu sou Carla, morri em 1885 por motivo de uma infecção pós-parto e fui enterrada exatamente neste sítio, porém meu túmulo foi vandalizado e eu não sei porque quando os homens ocuparam esse campo santo não retiraram minha ossada daqui, há tempos espero alguém me despertar!”
“Mas uma vez que eu despertei você?”, perguntou Marcelo. Carla respondeu que não foi ele.
A história de Carla foi a seguinte: Seu despertar se deu porque na semana passada durante uma obra do SAAE dentro do campus da FESC se descobriu uma urna com o pequeno caixão de José e nele havia a letreiro: Rebento de Carla Nóbrega.
Esse era o nome do seu fruto. José seria o querido fruto de Carla e do médico Adriano. A gravidez dela foi de risco, mas naquela quadra pouco se sabia sobre isso. Ela teve diversas complicações durante a prenhez e o próprio marido acompanhou tudo durante os meses que se passaram.
Quando deu à luz ao menino, Carla fez muito esforço, perdeu muito sangue em vivenda e ficou de leito, mas pode ninar o fruto nos braços por uns dois dias. Até entrar em choque séptico e morrer. Um dia depois, o menino também faleceu.
O médico Adriano ficou devastado com tamanha perda na família e providenciou um enterro rápido. Muito triste com todos os fatos, ele não quis comparecer às cerimônias fúnebres da mulher e do fruto.
Passou dias acamado, entrou numa espécie de transe. Teve febre, vômitos, perdeu peso, muitos achavam que a vivenda no sobranceiro da General Osório, onde moravam, seria palco de mais uma morte.
Carla foi sepultada em clima de comoção. O jornal da quadra registrou a morte da proeminente jovem, esposa do médico Adriano Nóbrega. Faleceu somente com 26 anos, na flor da idade. O sepultamento reuniu muita gente e todos comentavam que o marido estava louco.
Depois foi a vez de José, não resistiu e morreu com dois dias de vida. Sua cerimônia de sepultamento no cemitério onde é o Campo do Ruy foi rápida. Chovia muito potente no dia e uma vez que uma cova estava ocasião, mesmo que longe da sua mãe, os organizadores não perderam tempo e realizaram ali mesmo o enterro.
Adriano se refez de seu estado catatônico e embarcou para SP, depois viajou de navio para a Alemanha onde fez cursos e ficou até sua morte em 1931.
“Você foi escolhido por estar no lugar inexacto e na hora certa. Você está em cima da minha cova, muito neste sítio é onde estou enterrado e agora quero que faça seu trabalho, gostaria que rezasse um terço cá e outro onde encontraram meu fruto e depois fizesse uma visitante ao túmulo da família Nóbrega no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, eu preciso de silêncio, Marcelo! Meu marido não se despediu e eu não sei onde ele está agora! Me ajude!”
Mais do que depressa, Marcelo tomou pelas mãos seu terço e começou a prece, eram 4h30 da manhã. Fez tudo com calma e em clima de silêncio. Carla continuou ali, parecia que rezava com ele. Depois de terminar, o jovem já não sentia mais pavor, mas sim estava encorajado em dar folga para aquela espírito, queria dar silêncio para Carla.
Colocou uma blusa, pois fazia bastante insensível e quando percebeu estava escalando a grade da FESC, pulou no perímetro e começou a procurar o sítio onde o SAAE havia cavo. No dia anterior, ele viu no São Carlos em Rede que a autonomia de águas e saneamento capital tinha encontrado um caixão de moço ainda do período em que sítio fora cemitério e por isso percebeu que a sepultura ficava perto dos bebedouros.
Ali, Marcelo se ajoelhou. Rezou com fé e quando percebeu viu o espírito de luz ao seu lado novamente. Carlos se ajoelhou também uma vez que se chorasse por não ter neste projecto a oportunidade de conviver com o fruto. Marcelo fez o que ela pedia e voltou para vivenda. Ele meditava posteriormente ter rezado o terço com uma espírito do lado “de lá”.
Com uma sensação de silêncio dormiu um sono justo e acordou por volta das 9h30. Levantou, não falou com muita gente, pegou sua bicicleta e subiu até o cemitério Nossa Senhora do Carmo. Lá, encontrou o imponente túmulo dos Nóbrega. Parou, orou, fez o que tinha de fazer.
Marcelo passou um dia tranquilo, estudou e depois foi para as provas. Pela primeira vez se sentiu pronto e realizou tudo com desvelo.
Depois de voltar a faculdade ficou olhando para o terreno onde estava a FESC para ver se notava um pouco dissemelhante, mas não observou zero, somente percebeu sua expectativa crescer a cada momento.
Resolveu ir dormir, entretanto quando entrou no quarto, viu sentada em sua poltrona Carla com o pequeno José no pescoço.
Ela o olhou ternamente e lhe disse obrigado. Marcelo, já sem pavor, agradeceu e ainda foi observar o menino, um bebê lindo.
O rapaz pediu permissão para dormir, Carla disse que ficaria mais um pouco e que retornaria amanhã, se ele não se importasse. “Volte quando quiser, essa vivenda é sua antes de minha!”, respondeu Marcelo.
Isso tudo se deu de uma quinta para uma sexta-feira. No sábado à noite, eram mais ou menos meia-noite, o irmão de Marcelo entrou em seu quarto esbaforido dizendo que tinha visto um fantasma que parecia uma mulher empurrando um carrinho de bebê na pista de saúde da FESC.
Marcelo sabendo de quem se tratava somente disse: “Porquê vocês mesmos sempre me falam: deixe de besteira! Fantasmas não existem!”
*Esta é uma obra de ficção
Renato Chimirri
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