Depois das cheias no Sul, a seca em São Paulo
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves
Depois de observar o drama do Sul sinistrado pelas enchentes e de ter, a partir do ano pretérito, enfrentado os ventos, fortes e velozes que provocaram o desabastecimento elétrico, São Paulo vive a antecipação da seca, que deveria ter chegado em julho, mas se faz presente desde abril. Seus efeitos já são sentidos através da escassez de chuva para o provisão da população e atividades econômicas em dez municípios e do aumento do queimação em mato que, além do prejuízo no ponto de esbraseamento, motivo também a poluição do ar e o desconforto respiratório das pessoas e, até, dos animais.
Dez cidades já se encontram em estado de emergência, quatro delas – Bauru, Vinhedo, Artur Nogueira e São Pedro do Turvo – têm o fornecimento de chuva afetado. Não dispondo da suplente estrategicamente indicada, escalonaram a distribuição do liquido e pedem economia ao consumidor. Para enfrentar as dificuldades, o governador Tarcísio de Freitas publicou na ultima segunda-feira (29), projecto estadual de ações para prometer a chuva potável à população e suporte à atividade agrícola nas regiões afetadas. A Sabesp, que opera o saneamento em 375 dos 645 municípios paulistas, informa que não há risco de colapso na sua extensão de serviço, que inclui a capital e região metropolitana.
A Resguardo Social Estadual adverte que a estiagem antecipada e prolongada gerou cenário provocador nas regiões medial, centro-oeste e setentrião do Estado. Segundo o órgão, junho de 2024 foi o mais sequioso dos últimos 63 anos. A chuva foi “zero” na capital e em São José dos Campos, Ribeirão Preto e Araraquara. Bauru enfrenta o rodízio no provisão de chuva desde o dia 9 de maio. Itu decretou a mediação em lagos e açudes privados. Vinhedo faz rodízio no provisão desde 23 de maio e acionou o sistema de multa para quem lavar sege, lajeada ou regar jardim.
A previsão é de pouca chuva até outubro. O sistema Cantareira, que abastece segmento da capital e região metropolitana encerrou julho com 62,2% do seu volume de reservação. No ano pretérito contava com 78,9%. Os outros sistemas também estavam aquém da média. O Rio Evidente, o mais crítico, estava com 30,3% contra 41,2% há um ano. A capital e região são abastecidas por sete mananciais (Cantareira, Elevado Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Evidente e São Lourenço) e desde a crise de desabastecimento de 2014/15, as obras de emergência ali realizadas tornaram o conjunto mais maleável, podendo transferir chuva de áreas melhor servidas para as críticas. A interligação de represas e aumento da capacidade de tratamento é uma das responsáveis pelo estabilidade mesmo em períodos de escassez.
O quadro atual revela que – dissemelhante do Rio Grande do Sul, onde há excesso de chuva – o nosso problema está na falta do líquido. Nos anos 70, quando entrou em vigor o Planasa (Projecto Vernáculo de Saneamento), a proposta técnico do governo federalista era que cada Estado tivesse a sua companhia de saneamento e esta assumisse o serviço,. O projecto, no entanto, não foi avante uma vez que o previsto porque muitos municípios recusaram-se a transferir ao Estado seus serviços municipais de chuva e esgoto. Prefeitos e aliados de portanto tiraram proveito político do quadro, dizendo ao eleitorado de suas cidades que a não estadualização garantia tarifas menores. Só entregaram as localidades que possuíam o serviço sucateado e com problemas.
Boa segmento das cidades que recusaram o Planasa têm hoje problemas. Mais grave até do que a escassez de chuva é o não tratamento do esgoto, que continua sendo lançados “in natureza” nos rios.
O Estado de São Paulo acaba de privatizar a Sabesp num sistema que, segundo o governo, vai prometer melhores condições de funcionamento da companhia que, que poderá receber recursos privados e com eles realizar obras e ampliar serviços de saneamento. Pelo menos outros sete Estados também estão privatizando o serviço. Espera-se que as privatizações garantam regularidade e cumprimento de prazos nos serviços. Tanto a captação de chuva quanto a sua volta aos rios constituem tarefas importantes que devem executar cronogramas. Administradas pelo setor privado, sob regulação eficiente, as metas sem incerteza serão atingidas e as populações melhor atendidas.
Verifica-se que o problema de provisão de chuva e coleta dos esgotos tem pelo menos meio século de tentativas de solução Brasil afora. Mesmo assim, ainda convivemos com escassez (da chuva) e poluição provocada pelos esgotos não solucionados uma vez que determinam os padrões técnicos. A solução tende a vir mas, enquanto isso não ocorre, continuaremos obrigados a poupar chuva e fugir da poluição dos esgotos. Um desconforto que precisa rematar…Um grande problema brasiliano…
É dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)Foto Ilustrativa Freepik
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